Carolina Agostineli
Os países como Reino Unido, Estados Unidos, Canadá, Austrália e Nova Zelândia estão fazendo experiências da semana com 4 dias úteis, objetivando entender os impactos financeiros para as empresas, os benefícios para a saúde dos seus empregados e o posicionamento de seus clientes.
Mas afinal, quais são os prós e os contras da semana com 4 dias úteis?
A semana de 4 dias úteis surgiu na Europa, tendo como principal objetivo aumentar a produtividade com o uso mais eficiente do tempo e aumentar os dias de descanso, e por consequência, a diminuição da carga horária de trabalho.
O experimento é literalmente a redução da carga horária, para que os empregados trabalhem cerca de 35 horas semanais, em vez de 44 horas (no caso do Brasil), sem qualquer redução salarial ou extensão de carga horária nos 4 dias laborados.
A tabela abaixo tem por amostragens os benefícios e os malefícios deste projeto:
ASPECTOS POSITIVOS | ASPECTOS NEGATIVOS |
Mais tempo de lazer, seja para desfrutar com a família ou ir em compromissos pessoais (ex. médicos, salão de beleza, mercado). | Caso não haja a adoção do projeto pelos clientes e fornecedores, os empregados ainda serão contatados no período de descanso. |
Redução de doenças relacionadas ao trabalho, como ansiedade e burnout. | Dificuldades para cumprimento de metas e a possível necessidade de contratar mais colaboradores ou automatizar algumas funções e/ou atividades. |
Trabalho com maior dedicação e concentração no tempo estabelecido. | Possibilidade de alguns profissionais acelerarem a produção com consequente perda na qualidade. |
A adoção da flexibilização poderá acarretar muitas mudanças no mundo do direito do trabalho e serão necessárias mudanças legislativas objetivando evitar supressão de direitos e deveres de ambos os “lados da moeda”, seja do lado do empregado ou empregador.
Recentemente podemos dizer que houve uma quebra de tabu na sociedade relacionada ao “Home Office”, vez que muitas empresas que não adotavam o modelo de trabalho, se viram obrigadas a adotá-lo diante da chegada da pandemia causada pelo COVID-19.
Atualmente, a maioria dessas empresas desfruta dos benefícios do novo modelo de trabalho, como por exemplo a redução de custos com Estrutura e aumento do bem-estar de seus empregados.
Assim, apesar da proposta de 4 dias úteis ser “chocante” aos olhos da sociedade brasileira, estamos passando por uma fase de transição no que tange as relações empregatícias, principalmente com o ingresso de novas gerações no mercado de trabalho:
Segundo a 4 Day Week[1] os benefícios são:
“TRABALHADORES
Melhor equilíbrio entre vida profissional e pessoal – uma semana de quatro dias nos dá tempo para viver vidas mais felizes e realizadas, permitindo aquelas partes da vida não relacionadas ao trabalho que geralmente são negligenciadas, como:
Descanso – sono e as várias formas de descanso que precisamos enquanto estamos acordados (descanso físico, mental, social, emocional e sensorial).
Lazer – desde passar o tempo com a família e amigos, até perseguir hobbies e projetos de paixão.
‘Life Admin’ – tarefas como fazer compras, limpar, administrar as finanças e os muitos deveres dos pais.
Ajuda com o custo de vida – uma semana de quatro dias sem perda de salário reduz o custo de creche para os filhos e deslocamento.
EMPREGADORES
Maior desempenho e lucros – testes e exemplos do mundo real mostram que os empregadores que mudam para uma semana de quatro dias aumentam a produtividade e reduzem os custos (um estudo da Henley Business School em 2021 estimou que as empresas do Reino Unido economizariam £ 104 bilhões por ano se uma semana de quatro dias fosse implementada em toda a força de trabalho).
Maior talento – a redução da semana de trabalho permite às organizações atrair e reter colaboradores de alta qualidade, mais felizes, menos estressados e com menos dias de doença.
A ECONOMIA
Menor desemprego – incrivelmente, o Reino Unido sofre simultaneamente com excesso de trabalho, desemprego e subemprego, então uma semana de quatro dias é uma maneira intuitivamente simples de reequilibrar a economia e resolver muitos problemas.
Aumento da produtividade – numerosos estudos mostram que trabalhar menos horas aumentaria a produtividade do Reino Unido.
Impulsionar o turismo – com mais tempo de lazer livre, o setor de turismo se beneficiaria com as pessoas fazendo mais pausas curtas no Reino Unido.
SOCIEDADE
Melhor saúde mental e física – mais tempo para focar em nossa saúde e bem-estar, prevenir e tratar quaisquer problemas ou doenças.
Igualdade de gênero – uma parcela mais igualitária de trabalho remunerado e não remunerado, inclusive de papéis de cuidado tradicionalmente atribuídos às mulheres.
Comunidades fortalecidas – mais tempo para construir relacionamentos e cuidar de crianças, idosos e deficientes.
O AMBIENTE
Um estilo de vida mais sustentável – mais tempo livre nos permite fazer escolhas ambientalmente positivas, como andar de bicicleta e caminhar em vez de dirigir, e cozinhar com ingredientes frescos em vez de comprar refeições prontas com alto consumo de energia.
Uma pegada de carbono reduzida – a pesquisa mostrou que uma semana de quatro dias pode reduzir a pegada de carbono do Reino Unido em 127 milhões de toneladas por ano, o que equivale a tirar 27 milhões de carros das ruas (efetivamente toda a frota de carros particulares do Reino Unido).”
EXPERIÊNCIA DE OUTROS PAÍSES
Desde 2015, países como Bélgica, Islândia e Suíça iniciaram testes da semana com 4 dias úteis.
Na Bélgica entrou em vigor em 21 de novembro de 2022 o projeto de lei, que permitia que os profissionais escolhessem se trabalhariam 4 ou 5 dias por semana.
O primeiro-ministro – Sr. Alexandre de Croo[2], busca tornar o mercado de trabalho mais flexível para as pessoas combinarem suas vidas privadas e carreiras, bem como, acredita que isso criará uma economia mais dinâmica:
“O objetivo é dar às pessoas e empresas mais liberdade para organizar seu horário de trabalho.”
Segundo o jornal europeu EuroNews.Next[3], no Reino Unido, o experimento é considerado extremamente bem-sucedido, vez que das 61 empresas e 3.300 profissionais que participaram, 92% vão manter a política de 4 dias úteis após o período de teste.
A Escócia está em fase de implementação e o País de Gales já propôs ao governo e aguarda retorno. O Jack Sargeant, membro do Senedd e presidente do comitê, disse ao site Nation.Cymru[4] que o País de Gales deveria liderar o caminho na exploração da semana de quatro dias.
“É uma proposta ousada, mas não mais ousada do que aqueles ativistas que lutaram por uma semana de cinco dias, férias remuneradas e auxílio-doença que agora consideramos garantidos”, disse ele.
“Quando defendemos uma semana de quatro dias, estamos (falando sobre) a redução do horário de trabalho dentro de uma organização, mas não uma redução na taxa de remuneração. Há uma série de testes que sugerem que a produtividade aumenta”.
Já a Espanha está em fase de implementação e o Ministério da Indústria da Espanha incentivará as empresas que se inscreverem para o experimento com o valor de € 10 milhões, com o compromisso de que vão aumentar a produtividade.
O prazo estabelecido pelo Ministério é de 1 ano, com o auxílio parcial do governo com os custos e a empresa deverá se manter no programa por mais pelo menos 1 ano, totalizando 2 anos de experimento.
Considerado o país líder do movimento, a Islândia realizou teste de 2015 a 2019, e segundo os dados analisados pelo think tank[5] britânico Autonomy[6] e pela associação sem fins lucrativos islandesa para Sustentabilidade e Democracia (ALDA), o piloto foi considerado um sucesso.
Segundos as pesquisas, foi comprovado que o estresse e o esgotamento do trabalhador diminuíram e houve uma melhora no equilíbrio vida-trabalho.
COMO SERÁ NO BRASIL?
As empresas interessadas em testar o modelo de semana de 4 dias úteis, deverão se cadastrar no site do programa 4 Day Week Brazil[7], para que o experimento se inicie em agosto de 2023.
Até o presente momento não se sabe exatamente o valor que será cobrado, mas já foi pontuado pela empresa implementadora que haverá custos e os detalhes do projeto serão divulgados entre junho e julho. Ademais, a expectativa é que os primeiros dados para estudos estejam disponíveis no primeiro semestre de 2024.
Diante ao exposto, pode-se afirmar que a semana de 4 dias úteis é uma tendência para a evolução dos modelos de trabalho tanto no Brasil, quanto no restante do mundo.
Já é sabido que algumas profissões vão ter extrema dificuldade para adotar esta implementação, seja porque dependem de outros órgãos autorizarem e regulamentarem o projeto, ou pela atividade operacional.
Segundo os dados do Instituto Ipsos[8] apenas 3 em cada 10 brasileiros acreditam na semana de quatro dias de trabalho.
Ademais, caso haja a adesão deste modelo no Brasil haverá a necessidade de alteração da legislação trabalhista e o país contará com o auxílio dos Sindicatos para regulamentação das mudanças, garantindo os direitos dos empregados e empregadores.
Contudo, acredita-se que as relações empregatícias vivem em constante transformação, vez que conforme acima exposto, as variações e modificações se dão principalmente pela inserção das novas gerações ao mercado de trabalho e caberá aos profissionais, quebrarem estigmas e se atualizarem para a manutenção de suas crenças independentemente quais forem.
Para empresas que tem interesse nesta novidade, é recomendável que dialogue com seus empregados, investidores e sindicatos para pactuar o interesse na adesão do experimento.
[1] https://www.4dayweek.co.uk/
[2] https://pt.euronews.com/next/2023/03/02/semana-de-quatro-dias-que-paises-concordam-e-como-esta-a-correr-ate-agora
[3] https://pt.euronews.com/next/2023/03/02/semana-de-quatro-dias-que-paises-concordam-e-como-esta-a-correr-ate-agora
[4] https://pt.euronews.com/next/2023/03/02/semana-de-quatro-dias-que-paises-concordam-e-como-esta-a-correr-ate-agora
[5] “Think tanks são instituições que desempenham um papel de advocacy para políticas públicas, além de terem a capacidade de explicar, mobilizar e articular os atores.” – https://www.enap.gov.br/pt/acontece/noticias/afinal-o-que-e-um-think-tank-e-qual-e-a-sua-importancia-para-politicas-publicas-no-brasil
[6] https://www.osul.com.br/estudo-mostra-que-semana-de-4-dias-reduz-burnout-em-71-sem-queda-na-produtividade/
[7] https://www.4dayweekbrazil.com/
[8] https://www.ipsos.com/pt-br/apenas-tres-em-cada-dez-brasileiros-acreditam-que-empresas-adotarao-jornada-de-quatro-dias-de